MENSAGEM AOS IRMÃOS E IRMÃS DO DHAMMA

Gostaríamos de compartilhar convosco um trecho de uma sessão de perguntas e respostas que ocorreu no Texas e que, acreditamos, será muito inspirador neste momento para os meditadores.

Abaixo está o texto:

Caros amigos meditadores,
Que todos possamos beneficiar desta explicação dada por um professor sénior de meditação Vipassana, de acordo com os ensinamentos de S. N. Goenka, a uma pergunta feita por um antigo estudante da nossa tradição.

Antigo estudante: Como pode a meditação Vipassana ajudar-nos num período de incerteza e medo, como neste momento devido à pandemia e à histeria associadas ao vírus Covid-19?

Resposta: Um vírus é contagioso. Da mesma forma, o medo também é contagioso. Podemos tornar-nos portadores do vírus, mas não precisamos de ser transmissores do medo. Guardar os seus próprios medos internos para evitar tornar- se o seu transmissor é uma contribuição significativa que os meditadores de Vipassana podem oferecer a todos os que nos rodeiam neste período.

Os media enchem-nos de rumores alarmantes. A toda a hora, o medo obsessivo com uma iminente ameaça à vida, vinda do exterior ou do interior, obscurece a nossa visão, impede o entendimento correto e leva-nos a tomar decisões erradas e até nos paralisa a ponto de não sabermos como devemos proteger-nos. Isto desencadeia os nossos próprios medos e inseguranças internas.

No curso da prática de Vipassana, temos a oportunidade de parar, atenuar e finalmente erradicar o medo. Mas isto só é possível através da nossa prática de Vipassana: quando o medo surge, permanecemos com a consciência de Anicca. Noutras palavras, enquanto meditamos, quando surge a preocupação, o medo ou o terror nas nossas mentes na forma de pensamentos ou emoções, é essencial estarmos atentos às sensações que surgem associadas a estes pensamentos ou emoções, revelando a evidência inevitável da impermanência. Quanto mais nos desenvolvemos neste hábito, mais desfazemos a tendência da mente a permanecer e a reagir de maneira contraproducente que nada mais causa além de sofrimento e infelicidade.

As epidemias, as pandemias não devem desviar-nos destes princípios. Como seres humanos, ao longo das nossas vidas, movemo-nos sem parar entre boa e má saúde, bem-estar e doença, até que a morte chega. Estes extremos são acompanhados de uma alternância selvagem e ignorante entre comportamentos: na exuberância da juventude, sentimo-nos felizes, sem preocupações e aceitamos correr riscos, pensando que de alguma forma somos imortais. Como adultos, lutando contra a doença, exageramos nos pensamentos de desespero, pensando que o nosso sofrimento é de alguma forma exclusivo e interminável. “Oh! Deve sercancerígeno. Ah! Claro que tenho o vírus Covid-19!”. A marca distintiva de cada um destes extremos é a falta de consciência da verdade da impermanência. A prática do Dhamma é o único remédio para corrigir e desfazer os efeitos profundamente enraizados da ignorância.

Ficamos doentes nalgum momento e recuperamos, ou não. As precauções sensatas para proteger a nossa saúde, por definição, são aquelas tomadas com uma mente equilibrada. E obteremos uma mente cada vez mais equilibrada quando a purificarmos através da prática de Vipassana.

Que todos os seres sejam felizes!